sábado, 12 de maio de 2012

Breves: Anthony Bourdain em Lisboa - A "Crítica"

Ok, temos de finalizar este capítulo... Primeiro anunciamos que o Bourdain vinha a Lisboa, depois publicamos o raio do programa, agora acho justo fazermos uma breve apreciação ao mesmo.

O programa centrou-se na Lisboa de hoje, como reflexo de um país em crise e a convivência na cidade entre o antigo e o moderno. A dualidade antigo/novo, ou tradicional/moderno, foi demonstrada através da culinária, da cena musical lisboeta, nas conversas sobre o Portugal do Estado Novo vs. actual, entre outros temas.

Fora do âmbito gastronómico, a principal mensagem que passou e julgo que aí o programa foi bastante positivo, é que Portugal está em mais uma mutação económica e social. O país constantemente ao longo da sua História ultrapassou crises económicas e sociais, algumas delas há uma ou duas gerações atrás. A grande diferença nesta crise quando comparada com outras, não está na capacidade de a superarmos, mas sim no facto do país estar mais dependente de factores económicos externos (os tais mercados...) sobre os quais não tem qualquer tipo de controle. Em todo o caso, as crises apesar de dolorosas são momentos de mudança e a maior mudança que podemos fazer é a da mentalidade. O consumo desenfreado e com isso a mania do "estrangeiro é que é bom" abrandaram consideravelmente. O consumo de produtos nacionais é muito mais promovido actualmente, a começar pela Grande Distribuição (apesar de algumas práticas...), não apenas pelo factor baixo preço, mas principalmente porque são nossos e são bons. Outra mudança de mentalidade é o largar do peso do passado. Há uma diferença entre o discurso do Lobo Antunes e o do José Diogo Quintela, ou os Dead Combo. O passado recente não pode ser esquecido, mas o discurso das agruras do Estado Novo e das conquistas de Abril já teve o seu tempo e as novas gerações pedem um futuro...


No âmbito gastronómico, o ponto forte do programa foram os chefs Sá Pessoa e José Avillez lambusarem-se numa marisqueira de culto de Lisboa, daquelas à antiga, com marisco de altíssima qualidade (desde percebes a lagostins) e um prego no final. Atenção, dois chefs da nova geração comerem um prego e beberem imperiais não é um contra-senso, é apenas gostar de comer e isso é importante que seja transmitido. A participação do chef Ljubomir Stanisic pareceu-me fraca, principalmente no seu restaurante. Sinceramente, pelo aspecto, os seus pratos ficaram atrás de outros que foram sendo mostrados ao longo do programa, como por exemplo, os pratos de atum e sardinha em lata. O tempo dado ao chinquilho pareceu-me excessivo, podendo ter sido aproveitado para comer uma valente sardinhada (há quem goste...), ou o ex-libris lisboeta, os pastéis de Belém. O momento no Alma com o José Diogo Quintela já foi um pouco mais do mesmo, mas pelo menos comeu-se um bom bacalhau. Por fim, a mensagem final é a relação que se estabelece entre as pessoas e a comida, sendo que uma bifana frita em óleo nojento pode simplesmente saber bem.

É impossível em 40 minutos de programa mostrar-se tudo o que há de bom e de mau em Lisboa, o que é totalmente moderno, ou tão tradicional que até parou no tempo. O importante é que Lisboa e consequentemente o país, tiveram 40 minutos de exposição a um público internacional ávido de conhecer novas realidades e de ter novas experiências. Há-que aproveitar, os Dead Combo que o digam...

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