quarta-feira, 24 de abril de 2013

Cá-Te-Espero | Santo Tirso

" - Ai estão no Norte e querem ir a um sítio tradicional?" - questionou um dos meus pares.
" - Sim..." - respondeu o outro, já com receio do que aí poderia vir.
" - Então vamos ao "Cá-Te-Espero" que já vão ver." - retorquiu o primeiro com um sorriso malicioso.

(ver imagem aqui)

Com uma forte probabilidade deste diálogo ter sido aligeirado, a verdade é que algo de impressionante nos esperava no "Cá-Te-Espero", um restaurante ultra-tradicional de Santo Tirso. Situado à beira da N-105, actual Av. da Boavista, em Rebordões, Sto. Tirso, o "Cá-Te-Espero" é um espaço muito frequentado pela população local, sempre com boas casas, mesmo a meio da semana. É daqueles sítios em que a família toda vai jantar ou então, os patrões (empresários?) locais juntam-se para discutir o último negócio do mês.

O restaurante está situado numa cave com um pé direito baixo, que combinado com uma casa cheia, proporciona um ambiente barulhento, mas sempre animado. Óbvio que para esta animação, contribuem a decoração do espaço, entre o rústico e o muito familiar, pois o espaço assemelha-se às salas de jantar das casas antigas daquela zona. O serviço também contribui para este ambiente descontraído, pois neste espaço dispensam-se certo tipo de formalismos.

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(ver imagem aqui)

Mas o que realmente faz a fama do "Cá-Te-Espero" não é o seu espaço e natural simpatia do seu serviço, mas sim o que ali se serve. No "Cá-Te-Espero", o menu eventualmente pode auxiliar a escolha da comida, mas quem lá trabalha é quem indica o que naquele momento compensa ser servido, consoante a quantidade de pessoas à mesa. Falar numa refeição para duas ou três pessoas é inútil, pois apenas as entradas fariam o jantar de muitas pessoas. 

Não tendo sido escolhida qualquer entrada, foram servidas à mesa um Pernil de Porco gigante, bem cozido e muito saboroso, acompanhado por uma Morcela que fez as delícias de quem a provou, bem como, de um Chouriço de Sangue fantástico. Para além do Pernil, uma tigelinha de Favas com Chouriço, que pelo aspecto, para quem aprecia favas, deveriam ser óptimas. Também foi servido um prato de Rojões à Minhota, que acabaram comigo de tão deliciosos que eram. Por fim, para além de um Queijo de Cabra Curado que cumpriu a sua tarefa, havia um Presunto com Melão óptimo. As fatias eram finas e com a tira de gordura necessária para lhe dar sabor, sem que com isso o Presunto fosse uma daquelas coisas todas gordurosas que por aí se vendem actualmente. O Melão, mesmo fora de época, era fresco e doce, o que naquele ambiente abafado, caiu mesmo bem.

Quanto ao prato principal, não sei como, mas ainda consegui arranjar espaço para um Cabrito Assado no forno, com Legumes e Batata. A acompanhar um Arroz no forno, servido numa terrina própria de barro, mas que eu pessoalmente não apreciei, pois achei-o demasiado seco. O que importa destacar é o Cabrito, que normalmente é apelidado de "a vergonha da cozinheira", por causa da quantidade de ossos que ficam no prato e da pouca carne que se come, mas este não era certamente o caso. Bons pedaços de carne, suculenta, com um sabor intenso e diferente de tudo o que estamos habituados, mesmo quando comparado ao Borrego, estava excelente. Os acompanhamentos estavam também bons, em particular a batata, mas ao contrário do que, por vezes, sucedeu nestas voltas que dei pelo Norte de Portugal, desta vez, os acompanhamentos não eram melhores que o prato principal.

Quanto às sobremesas, que me recorde, ninguém teve coragem de as experimentar, mas dizem que o Leite Creme Queimado é qualquer coisa... Fica para uma próxima, bem como, um vinho tinto local para acompanhar a refeição, ao invés do espumante tinto que nos garantiram que seria a melhor opção. 

No que diz respeito ao preço, quero acreditar naquilo que diversas fontes indicam, que o preço médio por pessoa é de 15€, o que convenhamos, fazendo a relação quantidade/qualidade/preço, é uma excelente relação. 

data da visita: 20.março.2013
preço por pessoa: 15 €

Restaurante Cá-Te-Espero
Av. Boavista, 113, Rebordões
Santo Tirso

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Can the Can

Num almoço de empresa fui visitar o novíssimo Can The Can.

(imagem daqui)

Extremamente bem localizado, na Ala Nascente do Terreiro do Paço, este restaurante tem o conceito de "comida enlatada gourmet" - ou seja, apresentam pratos gourmet baseados na tradição das conservas portuguesas.

Uma marca muito bem construída à volta do simples conceito de "enlatados", que desenha bem a história do restaurante e que culmina numa decoração original do espaço - dois andares, pé direito muito alto e muitas aplicações de latas por toda a decoração.

Assim que chegámos foi-nos servido o couvert, composto muito simplesmente por azeitonas, pão e azeite com vinagre balsâmico. Sendo um almoço com muita gente, naturalmente teremos causado alguma azáfama ao serviço de sala e de cozinha, mas este até foi rápido tendo em conta a quantidade de pessoas na nossa mesa. Fomos inclusivamente atendidos pelo dono da casa, que foi cortês e atencioso mas, infelizmente, nem sempre simpático, havendo até um episódio de um comentário bastante desnecessário a uma das senhoras à mesa que me vou escusar a detalhar aqui.

Apesar da oferta em conservas, acabei por não resistir em pedir um Hamburguer em Bolo do Caco para a refeição, pois já era tarde e a fome apertava. Para além disso, ao analisar a lista, pareceu-me também uma melhor opção em termos de preço, o que explica o facto de ter sido a escolha de muitos de nós. O hamburguer veio acompanhado de batata frita servida num púcaro (que é engraçado embora já não seja original), e molhos de maionese e de mostarda de frutos vermelhos, que eram muito bons. O bolo do caco era bom (se bem que eu nunca tinha experimentado, portanto não sei comparar com o original), mas o hamburguer, apesar de ser de dimensão adequada, estava demasiado passado, tornando a carne muito seca. Valeu a imperial fresquinha que acompanhou a refeição. Sem apetite para mais, terminei com uma simples bica.

Parecendo um almoço extremamente simples, e, apesar de sermos muitos e de haver um ou outro que decidiu beber um copo de vinho (garanto que não foi a opção da maioria da mesa, que se decidiu por refrigerantes ou imperiais), e sendo que ninguém pediu sobremesa, o preço de 17,50€ por pessoa é - como dizer? - absurdo. Ainda se a qualidade da refeição o justificasse, mas, infelizmente, nem é esse o caso.

Enfim, uma experiência vale sempre por si só, mas fiquei com a certeza que o Can The Can não passa de um restaurante para turistas, aqueles que os locais normalmente recomendam evitar por serem extremamente caros. Aliás, se dúvidas houvesse que este restaurante foi concebido só para turistas, basta visitar o site, que apresenta primeiro a língua inglesa e só depois a portuguesa. Não que haja algum mal em conceber um spot exclusivamente turístico, mas o restaurante continua a ser em Lisboa e deve tentar encontrar um equilíbrio entre esse objectivo e o enquadramento local - não se pode desvalorizar a opinião local, até porque cá por Portugal também já temos internet e até utilizamos muito sites como o TripAdvisor.

Uma nota final para a agenda musical que o restaurante tem, com noites de fado, que poderão fazer a visita valer a pena.

data da visita: 05.abril.2013
preço por pessoa: 17,50 €

Can the Can Lisboa
Terreiro do Paço, 82/83, Lisboa
http://canthecanlisboa.com/

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Avenue by Porsche Design

Felizmente tenho tido a sorte de ter alguns almoços empresariais que me têm proporcionado visitar restaurantes diferentes e alargar as minhas experiências a este nível. Desta vez, fomos até ao Avenue, um restaurante muito recente que abriu na Avenida da Liberdade, mas que recebeu um comentário promissor por parte da Time Out Lisboa. 

(imagem daqui)

O restaurante está num 1º andar, tem uma decoração sóbria e elegante, sobre o preto. À chegada, um ligeiro impacto pela ausência de outros clientes no restaurante - para além da nossa mesa, havia apenas mais duas, o que dá sempre um mau pressentimento. Porém, tivemos a sorte de ficar na sala privada, o que beneficiou em muito esta experiência. O serviço foi rápido e atencioso a todos os níveis, sem se tornar intrusivo.

Para o almoço o Avenue oferece um menu executivo que inclui entrada, prato, sobremesa e bebida, escolhidos de uma pequena carta com 3 ou 4 opções para cada um destes itens. 

Para entrada (e porque não resisto a um bom ovo), escolhi o ovo escalfado com lascas de presunto e molho holandês. O ovo estava no ponto perfeito, nem demasiado cozinhado nem demasiado cru, e o molho também ficou muito bem neste prato. 

Para prato principal, decidi-me pelo lombinho de pescada sobre açorda de ovas e espargos, para o qual só tenho uma palavra - divinal. O peixe estava suculento, e a açorda com um óptimo equilíbrio de sabores que evitaram a sensação de enfartamento que esta iguaria costuma causar. 

Para finalizar, optei pelo gelado de bolacha com espuma de leite condensado e crumble. Em toda a refeição, a sobremesa foi a única peça do puzzle que não se destacou. Não sendo má (não era), não foi surpreendente, ao contrário dos outros dois pratos. O gelado era um bocadinho enjoativo e a espuma de leite condensado não ajudou. O crumble, por sua vez, revelou ser a salvação, pois estava extremamente crocante e saboroso. 

Recomendo vivamente esta experiência, especialmente aproveitando este menu de almoço, cujo preço é bastante vantajoso tendo em conta a oferta variada, o facto de ser um menu completo e, last but not least, a excelente qualidade da confecção, que nos oferece uma refeição de topo e que poderá alegrar o dia de trabalho!

data da visita: 20.fevereiro.2013
preço por pessoa: 19,50 €

Avenue by Porsche Design
Av. Liberdade, 129-B, Lisboa
http://www.avenue.pt/

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A Astória | Braga

Nas minhas andanças pelo norte de Portugal, fui parar àquela que para mim é a região com melhor gastronomia do país: o Minho. Infelizmente, nós, bloggers de "do chefe ao chef" não temos como dar ao Minho a atenção que esta região merece, motivo pelo qual, partilho este pequeno momento no restaurante "A Astoria".

Entre afazeres profissionais, foi no "A Astória" que fiz uma breve pausa para o almoço, mas quem me dera a mim poder almoçar assim mais vezes. O "A Astória" está bem localizada, na praça central de Braga, cidade ainda vibrante, num país cada vez mais paralisado. O seu espaço consiste num open space amplo de dois pisos, com uma excelente montra de garrafas de vinhos nacionais e estrangeiros, para além de outras bebidas, decoração simples e moderna, "encaixada" numa infraestrutura de pedras de granito maciças. Com bom tempo, a refeição no telhado, com vista para o centro de Braga, deve ser agradável.

A refeição foi relativamente simples, pois o tempo era escasso, além de não gostar de comer muito em dias de trabalho (recordar post da "Pastelaria Versailles"). Assim, o couvert fez de entrada, sendo composto por um patê de Atum fabuloso e um Azeite com Vinagre Balsâmico viciante. Como prato principal, optou-se pelo prato do dia, o afamado Bacalhau à Braga. O bacalhau que nos foi servido tinha proporções consideráveis (já comi bifes menores), estava muito bem confeccionado, nada seco e bem temperado, com as lascas a saírem na perfeição. A acompanhar o bacalhau uma cebolada q.b., que fez as minhas delícias, pois adoro uma boa cebolada. Para beber, fiquei-me por uma água do Luso, engarrafada em 2013, fresca e leve, só como uma água mineral pode ser...

O serviço apesar de simpático, pareceu-me um pouco lento, inclusive para pagar. Gostaria de testar o serviço ao jantar, mas tal não será possível, pelo que aguardo feedbacks dos nossos leitores a este propósito.

No que diz respeito ao preço da refeição, não tenho como entrar em grandes detalhes. Aparentemente estávamos numa promoção do Bacalhau à Braga, daí que o custo final foi aproximadamente de 15 €. Em dias normais ou ao jantar, certamente o preço será superior. 

data da visita: 20.março.2013
preço por pessoa: 15 €

Restaurante A Astoria
Praça da República, Braga
 www.facebook.com/AAstoria

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Castas e Pratos | Peso da Régua

Em andanças pelo interior do nosso Portugal, tive a oportunidade de conhecer alguns restaurantes cujas experiências tinham de ser partilhadas no "do chefe ao chef". São várias as razões para partilhar estas experiências, desde o momento vivido num fantástico restaurante de beira da estrada, até ao mais sofisticado espaço que poderia encontrar. Porém, há dois factores que quando somados constituem um denominador comum a estas experiências, a saber, o seu espaço único e a qualidade da sua comida. 

 
(ver imagem aqui)

A primeira experiência a ser aqui partilhada foi vivida no "Castas e Pratos", um restaurante situado em Peso da Régua e que, merecidamente, está presente em todos os guias gastronómicos de relevo, incluindo o último "Boa Cama, Boa Mesa 2013". Este restaurante destaca-se logo pelo seu espaço, resultado de um excelente aproveitamento e restauro de um antigo barracão da estação de comboios local. Decoração sofisticada e intimista, existe logo à entrada com um wine-bar, composto por uma mesa grande de (pareceu-me...) carvalho e com as suas paredes a revelarem uma garrafeira fantástica, não estivéssemos nós em pleno Douro Vinhateiro.

(ver imagem aqui)

Tendo tido a oportunidade de acompanhar uma comensal (a.) que aprecia o requinte da boa culinária, posso afirmar que a refeição foi quase perfeita. Um ou outro pormenor menos bem conseguido, descritos adiante, mas nada que pusesse em causa a qualidade superior dos pratos aqui confeccionados. Relativamente à nossa refeição, saltámos as entradas e, directamente, nos pratos principais a. experimentou um Salmão Gratinado com Queijo Chèvre e Espinafres em Azeite e Alho. A posta era de proporções consideráveis, porém, demasiado passada para o gosto de a. Já noutra experiência que partilhei, foi referida a questão do peixe vir bem ou mal passado, sendo que então o peixe estava mal passado. Volto a colocar a questão, se para algumas carnes nos questionam se a queremos bem ou mal passada, há alguma razão para a mesma questão não ser colocada em relação aos peixes? Enfim, voltando à refeição, os espinafres poderiam ter um sabor mais intenso, sendo que, talvez isto tenha sido propositado, de modo a combinar o seu sabor com o da rodela de chèvre que derretia ao longo do prato. Por fim, os olhos também comem e a apresentação deste prato estava muito boa.

O prato que eu provei foi um Medalhão de Bacalhau com Esmagado de Batata, Couve-Galega e Broa. O medalhão tinha uma boa proporção e era de uma qualidade excelente, com as lascas a separarem-se com um ligeiro toque do talher. O tempero estava excelente e a confecção muito boa, porém, se o bacalhau  estivesse um pouco menos seco estaria mais ao meu gosto. O sabor do azeite absorvido na broa e a couve-galega eram dignos de um parágrafo à parte, mas tenho a certeza que a paciência para o ler não seria muita.

Relativamente à sobremesa, talvez este seja o aspecto a trabalhar melhor no restaurante. A Maçã Caramelizada com Gelado de Leite Condensado e Crocante Folhado que a. experimentou não cumpriu, de todo, as expectativas geradas. O crocante e o folhado estavam demasiado compactos e maçudos para assim serem chamados, enquanto a maçã estava demasiado doce, faltando-lhe a sua a acidez característica. A minha Delícia de Ovos Moles com Gelado de Vinagre Balsâmico tinha como principal motivo de interesse o gelado, mas se este era de vinagre balsâmico, admito que não me apercebi. Parecia-me apenas um (bom) gelado de nata ligeiramente ácido. Já o doce de ovos era excelente, aquele sabor excessivamente doce que misteriosamente não se torna enjoativo, porém, o que estava lá a fazer um marshmallow?

A acompanhar esta refeição, cada um bebeu um vinho (a copo), com a. a experimentar um suave e frutado Flor das Tecedeiras (2010), enquanto que eu experimentei um intenso Quinta da Deserta (2010). Não conhecíamos qualquer um destes excelentes vinhos, que dificilmente encontramos em Lisboa. Enfim, há coisas que só se encontram mesmo nas suas regiões de origem, sendo o vinho uma delas. Garanto que não é apenas pelas belas paisagens que vale a pena vir à região vinhateira do Douro...

Por fim, uma breve nota para o serviço, cujo atendimento foi profissional e discreto, bem como, para o valor desta refeição, que se ficou sensivelmente pelos 69 euros. Por uma refeição composta por dois pratos principais, duas sobremesas e bebidas, quase todos num nível entre o bom e o muito bom, a relação qualidade-preço parece-me claramente satisfatória.

data da visita: 19.março.2013
preço por pessoa: 35 €

Restaurante Castas e Pratos
Rua José Vasques Osório
  Peso da Régua