domingo, 6 de maio de 2012

Sabor Mineiro

Na Antiguidade Clássica, a forma que os imperadores romanos tinham para controlar a população resumia-se ao lema "Panem et circenses". Actualmente, a população tem ao seu dispor diferentes formas de "circo", desde programas de televisão estupidificantes, ao Jorge Jesus, mantendo-se assim distraída dos problemas que hoje enfrenta. O "pão" é igualmente providenciado às massas através das mais diferentes formas, desde promoções ética e legalmente discutíveis de uma marca de supermercados de sabor azedo, passando pelos inúmeros estabelecimentos de junk food, que, por meia dúzia de tostões, saciam as nossas papilas gustativas. O post de hoje pretende dar a conhecer uma marca, cujos estabelecimentos providenciam o "pão" às massas de uma forma suculenta, calórica, mal-passada, saborosa, com música brasileira "brega" (e outras de elevada qualidade, porém quase sempre destruídas) e muita animação. É óbvio que falo dos restaurantes de rodízio brasileiro Sabor Mineiro.

(ver foto aqui)

Para começo de conversa fica o elogio ao Sabor Mineiro, pois entre uma mão cheia de marcas em Portugal (Lisboa em particular) que disponibilizam churrasco brasileiro, na forma de rodízios ou comida a peso, estes restaurantes apresentam na minha opinião a maior variedade de carnes e o buffet mais completo. Quando escrevo completo, é mesmo completo, contando com vários pratos/petiscos brasileiros típicos, como por exemplo a indispensável feijoada, farofa, arroz de carreteiro, couve mineira refogada, dobradinha, feijão tropeiro, palmito e o meu guloso pão de queijo (que eu já não como, simplesmente devoro). Infelizmente, a sorte foi-me madrasta, pois após uma vida inteira a comer arroz com feijão, "catrapum" adquiri uma alergia a este alimento...

O churrasco é mais composto que noutros restaurantes do género, que normalmente se limitam à picanha e à linguiça (em Portugal diz-se salsicha), sendo usual servirem-se no Sabor Mineiro partes de carne bovina como a maminha, fraldinha, cupim, costelão, alcatra e filé mignon (bife do lombo). Também são servidas carnes de porco (pernil, lombo e entrecosto), frango (coxa e coração de galinha) e até caprina (costeleta de cabrito). No decorrer do rodízio são servidos alguns acompanhamentos, dos quais destaco a banana frita e no fim de cada rodada por mesa um abacaxi no espeto. A qualidade da carne bovina é inquestionável, pelo menos nas diferentes vezes que fui ao Sabor Mineiro, nada tenho a apontar. O mesmo posso dizer relativamente à sua confecção, excelente, mesmo como eu gosto, entre o mal-passada e o muito mal-passada. Contudo, eu gosto da carne de vaca mal passada, já a carne de porco não... Amigos, sei que ao fim de semana o serviço é complicado, pois são centenas de clientes e a carne tem de sair para as mesas, mas carne de porco mal passada é perigosa para a saúde.

Tendo tido a oportunidade de ir a churrascarias no Brasil (São Paulo na infância, Nordeste e Rio de Janeiro já em adulto), posso afirmar que em qualidade, aquilo que nos é servido no Sabor Mineiro não difere muito do que é servido lá. Existem restaurantes como por exemplo o Marius no Rio de Janeiro, que são de elevada qualidade (tal como o preço), mas para o nível médio das churrascarias do Brasil, o Sabor Mineiro é equivalente quando não superior.

O sucesso do Sabor Mineiro é em parte justificado pela qualidade e diversidade da comida disponível, mas o preço também é outro factor a ter em conta. O preço é acessível, especialmente nos almoços onde existem umas promoções interessantes e nos jantares de grupo em que o rodízio, o buffet e as bebidas são à descrição. A única excepção é a típica caipirinha, que dizem ser excelente, mas como não sou grande apreciador dispenso. Os estabelecimentos da Charneca da Caparica (localidade onde já existiram dois restaurantes) e o da José Malhoa em Lisboa são amplos, ideais para grandes grupos e com um pormenor interessante para um ex-aquariofilista como eu, aquários de água doce grandes e lindos. Contudo, sugiro que evitem ir ao Sábado à noite, a não ser que tenham espírito para a "coisa". É que o sucesso do Sabor Mineiro não se justifica apenas pela qualidade da oferta e preços acessíveis, mas também pelo ambiente proporcionado nestes restaurantes que são semelhantes ao conceito dos seus congéneres brasileiros. Grandes grupos de clientes, os sucessos mais recentes da música brejeira brasileira (os "ai se eu te pego" da vida) "cantados" ao vivo e a animação dos próprios empregados que arrastam as mulheres mais afoitas para um pézinho de dança, são uma receita fatal para os nervos de quem apenas quer,  pacatamente, comer e conviver. Atenção, gosto muito de um bom pagode, a Bossa Nova e o Tropicalismo são marcos da música lusófona, mas desculpem-me por não gostar de comer com música "aos altos berros".

Por fim, uma menção honrosa aos empregados do Sabor Mineiro. Para todos aqueles que gostam de criticar e mandar piadas sobre a comunidade brasileira, gostaria de os ver a enfrentar o serviço do Sabor Mineiro. Eu não sei e ainda tenho a sorte de não ter que saber o que é aturar centenas de clientes por noite, com um espeto de carne gigante na mão, conseguir cortá-la na perfeição e ainda assim ter uma enorme dose de simpatia e boa disposição para com os clientes. Respeito as empregadas brasileiras do Sabor Mineiro que, volta e meia, têm de mandar alguns clientes "dar uma volta", sempre de forma simpática. Em época de crise, temos todos a aprender uns com os outros, a começar pelo respeito, pois se não, qualquer dia já não há brasileiros...

data da última visita: 05.maio.2012
preço por pessoa (jantar grupo): 20 €

Sabor Mineiro

1 comentário:

  1. E na última visita a este restaurante, apercebi-me de um considerável retrocesso na qualidade do serviço (menos empregados...), menos carne no rodízio (onde estavam o cupim, a maminha e o costelão?) e menor variedade no buffet. Sinais da crise?

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