terça-feira, 9 de outubro de 2012

Assinatura

Em jeito de inconfidência, entre nós, no do chefe ao chef, costumamos dizer que existe em Lisboa um eixo gastronómico principal. É o chamado "eixo Príncipe Real – Rato – Marquês de Pombal", pois, nas imediações deste trajecto, situam-se alguns dos melhores restaurantes de Lisboa. 

(imagem do site)

O Assinatura tem fama de ser um dos melhores restaurantes da cidade e coincidência das coincidências, está localizado bem no centro deste percurso. Assim sendo, não nos restava outra hipótese senão ir conhecer o restaurante do Chef Henrique Mouro e verificar se este espaço e gastronomia se enquadravam na qualidade de alguns dos outros restaurantes desta zona da cidade.

Enquanto espaço, o Assinatura é sóbrio e elegante. As cores predominantes são o vermelho e o branco, as mesas são grandes e as cadeiras confortáveis. Ao fundo da sala, uma enorme fotografia de importantes símbolos lisboetas domina o ambiente e do tecto pende um enorme lustre. O ambiente é agradável, ainda que um pouco vazio… as paredes são desprovidas de qualquer decoração, e não existem outros apontamentos decorativos além dos já referidos. Talvez queiram que as pessoas se concentrem unicamente na comida, sem distracções.

(imagem do site)

Em contraste, ou não, o serviço foi atencioso, profissional e sem falhas, sendo a equipa composta por empregados jovens e descontraídos, que nos explicaram “entre dois dedos de conversa” todos os pratos que nos foram servidos, o que, neste caso, assumiu uma importância maior devido ao menu que escolhemos. Sem dúvida que se o serviço fosse mais formal, dado o tipo de restaurante que o Assinatura é, nos iriamos sentir muito menos à vontade.

Quando nos sentámos, reparámos que num dos cantos da sala, por cima da escada que desce para o piso de baixo, existe uma mesa no tecto (presa no tecto, de pernas para o ar), reflectida num espelho. Este pormenor, diferente e original, contrasta com a sobriedade do resto do espaço. Seria esta mais uma pista para o conceito do restaurante? Tradicional, mas diferente?

Uma nota para a sala do piso inferior… tem apenas uma mesa, para 15 pessoas, com vista directa para a cozinha aberta, onde é possível ter um contacto mais directo com os Chefs e observar o trabalho de backstage.

Optámos, como quase sempre, pelo menu de degustação, na sua versão de 5 pratos. Ficamos nas mãos do Chef, uma vez que, neste menu, os pratos são "surpresa" até chegarem à mesa (é apenas garantido que não há limitações ou intolerâncias alimentares por parte de alguém – no nosso caso existe uma, pelo que um dos pratos foi “à medida”). Como o menu não está descrito em nenhum local, não nos é fácil recordar todos os pormenores, mas vamos tentar…

Em primeiro lugar, um amuse bouche diferente: flor de courgette frita recheada com caviar de beringela e bacalhau desfiado, num creme de tomate. À partida pensámos que seria uma mistura difícil de combinar, mas a verdade é que os sabores ligavam-se perfeitamente. Começamos então com uma terrina de raia alhada, muito macia e com um molho fantástico.

Nos pratos principais, foi-nos servido polvo em vinho tinto, sardinha em xerém de bivalves e plumas de porco preto com feijoada de caracóis e puré de feijão (o feijão foi substituído por puré de grão num dos pratos, a nosso pedido). Todos os pratos eram saborosos, deixando a vontade de comer mais e mais. Talvez devessem repensar a questão da sardinha devido às espinhas. Sim, todos sabemos que a sardinha é um peixe mais que tradicional, português e que tem espinhas que se comem, mas num prato destes, não foi do nosso agrado.

A sobremesa era uma combinação de alperce, em leite-creme e em gelado, com um estaladiço de caramelo. Foi uma boa forma de terminar a refeição. O equilíbrio entre a acidez do alperce nas suas várias texturas e o doce dos restantes ingredientes estava perfeito.

O vinho que acompanhou a refeição foi o Conde D’Ervideira Branco, Reserva, 2011. Um alentejano branco fresco e suave.

No geral, o nosso sentimento sobre a refeição foi semelhante ao que sentimos sobre o espaço. Pratos sóbrios e elegantes na apresentação, mas demasiado seguros e conservadores. A verdade é: o que importa no Assinatura é a qualidade dos ingredientes e a complementaridade dos seus diferentes sabores. O objectivo é manter e realçar o sabor natural dos produtos (de acordo com o site). Estes pontos são indiscutíveis. A qualidade é evidente, os sabores são verdadeiros, a confecção é perfeita e a apresentação é cuidada ao pormenor.

As questões que se põem são:
Quantas pessoas estão dispostas a pagar um preço elevado por uma experiência gastronómica que, apesar de ter uma qualidade superior, é segura e não nos transporta para fora da nossa zona de conforto?
Quantas pessoas estão dispostas a pagar o mesmo preço elevado para repetir uma experiência gastronómica, que sendo consistente, é pouco surpreendente?

Enfim, não sabemos, mas sabemos neste contexto em que vivemos é difícil pagar 50 € / 60 € (por pessoa) por um jantar.

Recordamos que nas experiências gastronómicas é tudo muito subjectivo, o que algumas pessoas podem amar, outras podem odiar. Neste caso, amámos, mas estávamos à espera de algo diferente… não necessariamente melhor, mas, definitivamente, mais memorável.

Numa perfeita contradição de sentimentos, recomendamos o Assinatura, mas provavelmente não voltaremos.

data da visita: 26.julho.2012
preço por pessoa: 34,90 € (com o desconto dois por um)
preço por pessoa: 62,40 € (sem o desconto dois por um)

Restaurante Assinatura
Rua do Vale Pereiro, nº 19 
(na esquina com a Rua Alexandre Herculano)

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