segunda-feira, 4 de junho de 2012

Lisboa Restaurant Week - Tertúlia do Paço

Sem perder mais uma edição da Lisboa Restaurant Week (LRW), decidimos experimentar o Tertúlia do Paço. Este restaurante sempre seguiu o do chefe ao chef, pelo menos no Facebook, tendo sugerido, nesta rede social, que os visitássemos a propósito deste evento. Como a curiosidade falou mais alto, lá fomos nós em mais uma expedição gastronómica que agora partilhamos.

Desenganem-se os que (como alguns de nós) pensam que este restaurante fica no Terreiro do Paço - fica sim, algures,  entre Telheiras e o Lumiar. Situado num bairro típico desta zona de Lisboa, i.e., prédios de habitação com áreas consideráveis, espaço para estacionamento, árvores e parques infantis q.b. e um comércio local insípido, o Tertúlia do Paço oferece uma pequena entrada coberta com um toldo (um estilo que nos faz lembrar os restaurantes franceses).

(foto daqui)

Lá dentro, destaca-se à entrada, o enorme aquário de marisco vivo, com a sala de refeições ao fundo do restaurante. À média luz, uma sala de tamanho razoável, com uma decoração que se pretende clássica, mobiliário e soalho em madeira e alguns detalhes em dourado. A vista para as barreiras de som do Eixo Norte-Sul não é estonteante, mas o Tertúlia do Paço é um restaurante e não o miradouro de São Pedro de Alcântara. A música ambiente também não era, de certeza, a que mais se adequava aos nossos gostos pessoais.

(foto daqui)

O facto de apenas duas mesas estarem ocupadas (além da nossa), e também o silêncio, por momentos sepulcral, que se fazia sentir não tornou o ambiente de todo descontraído. A impressão de que não podíamos falar para além do volume do sussurro é algo desconfortável. O ambiente ajudou a que um atendimento que se pretendia atencioso, por vezes, se tornasse intrusivo. Talvez com mais mesas por servir, o atendimento prestado pelos empregados (trajados com um colete e laço excessivamente formais) pudesse ser mais discreto e algumas falhas que se verificaram passassem despercebidas, como, por exemplo, a hesitação sobre a ordem em que se serviram os pratos, ou, o uso excessivo de diminutivos. Certamente que com meia casa ocupada não nos teria sido possível ouvir a conversa vinda da cozinha (desenquadrada do estilo do restaurante).

O menu, como é habitual neste evento, foi criado especialmente para a LRW e tem opções limitadas (menu completo aqui), no entanto, no Tertúlia do Paço até nos pareceram bastante adequadas e apelativas.

Para entrada, todos escolhemos os Cogumelos Frescos Recheados com Presunto e Queijo Gratinado. Eram bons, mas nada de especial... no geral, tinham um sabor pouco apurado. O que os tornava bons era, mesmo, o facto de todos gostarmos muito de cogumelos.

Nos pratos principais, embora por acaso, escolhemos opções diferentes...

d. experimentou os Filetes de Polvo com Migas de Feijão Frade, e gostou muito. O polvo estava extremamente macio e bem confeccionado. As migas, apesar de boas e de serem um acompanhamento que ligava bastante bem com o polvo, tinham dois "senãos" - pedras de sal pelo meio, o que não facilitou a degustação (não eram muitas, mas existiam), e a quantidade, que devia ser ligeiramente menor (o feijão enche muito).

g. pediu o Medalhão de Cherne com Molho de Camarão e Batata Dourada. O prato era saboroso, estando o cherne macio e o molho de camarão com um sabor apurado. No entanto, não houve nada de novo nem original neste prato, ficando a sensação que podia ser facilmente replicado em casa.

j. escolheu o Lombinho de Porco Preto à Bulhão Pato e não se arrependeu. O sabor era bom, a carne macia, as ameijoas sem areia e os acompanhamentos adequados e bem confeccionados. A única questão a apontar, é mesmo a quantidade de molho, que, por ser bastante, tornava o prato pesado.

f. decidiu-se pelo Tornedó à Terra e Mar (com Cogumelos Frescos e Camarões). Destacou-se a carne, que era de boa qualidade e bem confeccionada (mal passada como se esperava, ainda que não tão mal passada como f. gosta). Os acompanhamentos, por outro lado, não estavam à altura da carne servida. O folhado e o esparregado não pareciam home made e os cogumelos não pareciam frescos.

Para sobremesa...

j. e g. provaram o Apfelstrudel, o Gelado de Baunilha e a Canela. Estava à altura das expectativas. Talvez não tenha sido o melhor Apfelstrudel que já comemos, mas era bom.

d. e f. optaram por O Pudim de Maracujá... que, na verdade, não era mais do que uma tira de pudim (com uma textura de pudim instantâneo indiscutível) regado com um molho de maracujá. Podemos dizer que o molho era interessante... quanto ao pudim, não há muito mais a acrescentar.

O Tertúlia do Paço tem aspectos positivos e negativos, uns, obviamente, mais importantes que outros.

Em primeiro lugar, no geral, a comida é boa, o que é um ponto fundamental. É verdade que a qualidade de alguns acompanhamentos dos pratos principais foi discutível, mas compreendemos que pode resultar da ideia partilhada por alguns restaurantes de que a qualidade pode ser diminuída em eventos tipo LRW, uma vez que os preços são mais reduzidos. Damos o benefício da dúvida a um normal período de funcionamento, e por isso consideramos a comida um aspecto positivo.

Por outro lado, consideramos que o restaurante está desenquadrado... no ambiente, no serviço e no preço, ou, melhor dizendo, na conjugação de todos estes factores. Num bairro residencial como aquele onde o Tertúlia do Paço está localizado, as pessoas procuram um ambiente descontraído, onde podem apreciar boa comida, uma saborosa Sapateira ou um suculento Bife na Pedra, na companhia da família ou amigos, a um preço acessível. Temos dúvidas se o ambiente formal é "a praia" do Tertúlia do Paço. Os empregados estarão assim tão à vontade para o tipo de serviço que pretendem prestar? Os pratos estarão todos ao nível do tipo de cozinha que pretendem servir? A decoração do restaurante é coerente no seu conjunto? Focando-nos no aspecto preço, e tendo em conta que na Lisboa Restaurant Week os menus são mais acessíveis, 31 € / pessoa (bebidas não incluídas no menu LRW) não será um valor demasiado dispendioso?

Sem querermos pretender ser algo que não somos, na nossa opinião, talvez o Tertúlia do Paço pudesse apostar num "downgrading", que é como quem diz - apostar naquilo em que são bons (qualidade da comida), e deixarem-se de formalismos excessivos e acessórios.

Não valerá a pena repensarem o que são e o que podem ser, ao invés do que sonhavam ser?  

data da visita: 17.maio.2012
preço por pessoa: 31 € (LRW)

Tertúlia do Paço
Rua Fernando Lopes Graça, 13 A, Lisboa

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