quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Largo

Uns dias antes do Natal não resistimos em gastar o último dos nossos cartões 2por1 da Time Out e fomos até ao restaurante Largo.

(imagem do site)

O Largo fica ao lado do Teatro São Carlos, num espaço antigo, onde antigamente se situavam os antigos claustros do Convento da Igreja dos Mártires. Mais do que um excelente trabalho de restauração, todo o espaço foi convertido num restaurante amplo e moderno, cuja decoração é sóbria e com muito bom gosto. Numa das paredes existe um aquário com medusas, iluminado a LED colorido, que traz um excelente pormenor à decoração. É um restaurante em que se conjuga o design com aspectos da construção original  como as clássicas abóbadas de pedra.

(imagem do site)

Ao analisar a carta percebe-se que o Largo é um restaurante que, apesar do seu posicionamento de preços elevados, permite uma opção mais "económica" através da escolha de um menu de entrada e prato principal, escolhidos entre os vários disponíveis. Ao invés dos típicos menus de degustação, que normalmente não admitem escolhas ou trocas de pratos, ou dos menus "à escolha do chef", que são surpresa, este tipo de menus é bastante mais simples, mas, ao mesmo tempo, mais adequado à realidade da restauração portuguesa.

Claro que tanta flexibilidade resultou numa maior demora para decidirmos sobre o que queríamos jantar, mas aqui notou-se logo a boa qualidade do serviço, pela simpatia e profissionalismo demonstrados pelos empregados junto de uma mesa indecisa.

Assim, depois de muito pensar, g. escolheu como entrada Trio de Peixes, composto por Robalo, Salmão Curado e Tártaro de Carapau. Esta entrada de influência oriental é fresca e é uma óptima forma de iniciar uma refeição, uma vez que os três peixes são servidos crus, o que é uma surpresa muito agradável, em especial, o tártaro de carapau (que normalmente não é servido cru)d. e j., foram incapazes de resistir às Trouxas de Chêvre com Tomate, Mel e Alfaces, o que foi uma excelente decisão. As trouxas, feitas com uma massa muito fina e estaladiça, estavam tentadoras e a já conhecida ligação entre o queijo chévre com tomate e mel como seria de esperar, equilibrada e deliciosa. Infelizmente, nem tudo foi excelente no capítulo das entradas e o muito ansiado Soufflé de Lavagante e Espargos Verdes com Bisque, escolhido por f. revelou-se uma desilusão. Um soufflé é um desafio para qualquer cozinheiro, pois, com os melhores ingredientes ou com as sobras do dia anterior, é possível fazer um grande prato ou uma grande papa. Neste caso, o sabor era bom, porém a consistência não foi a melhor, uma vez que o interior do soufflé parecia, demasiado, uma sopa.

Nos pratos principais, j. experimentou um Bife do Lombo Charolês com molho Queijo de Azeitão sobre Espinafres. Só o nome já nos deixa com água na boca. A carne estava tenra e bem temperada, ainda um pouco mais mal passada que o pedido. O molho era forte (é só mesmo para quem gosta muito de queijo, que é o caso de j.), mas não se sobrepunha ao sabor da carne, sendo, talvez, este o aspecto que mais beneficiou o prato. Os espinafres, simples, salteados, desenjoavam, sendo um acompanhamento adequado.
d. escolheu um Cachaço do Porco Ibérico com Migas de Batata-Doce e Espinafre, tendo algumas dúvidas sobre se gostava desta peça de carne. Porém, as migas de batata-doce e espinafre é que a levaram a decidir por este prato. Estava muito bem confeccionado, a carne estava muito tenra e as migas com os sabores da batata-doce e do espinafre muito bem equilibrados. O problema desta peça de carne está na sua gordura, o que leva d. a pensar duas vezes sobre se voltava a repetir o prato.
O Risotto de Sapateira com Camarão Salteado foi a escolha de g. que surpreendeu pelo positiva. Por norma g. não pede Risottos por os considerar enjoativo e demasiado fortes, mas este prato, apesar de o intenso sabor a marisco, estava muito equilibrado não sendo difícil terminar o prato. O Camarão salteado estava no ponto certo, sendo o acompanhamento ideal para este risotto.
f. resolveu optar por experimentalismos e escolheu um prato de carne de Veado, pois nunca tinha provado. A carne estava mal passada como f. gosta, muito bem temperada e o seu sabor assemelhava-se à de vaca, porém a sua consistência era totalmente diferente e perceptível à vista. Não era certamente o pedaço de carne mais tenro que havia na mesa, mas era consistente e muito bom, algo a repetir para tirar quaisquer dúvidas que ainda existam.

A carta de sobremesas, apesar de mais curta, também não permitiu uma escolha simples... à excepção de f., que escolheu o seu adorado Pudim Abade Priscos, feito da maneira correcta, ou seja, com banha de porco. Esta sobremesa não é consensual, porém f. considera-a, simplesmente, divinal e, neste caso, o pudim estava melhor do que alguns que provou no Minho (de onde este doce é proveniente). Para terminar a sua refeição, e conhecendo o seu gosto por chocolate, g. não teve dificuldade em optar pela Mousse de Chocolate a Zero Graus, com Creme de Avelã. Esta sobremesa, tal como o nome indica, é uma mousse de chocolate, suave e deliciosa servida a uma temperatura muito baixa (mas não é um gelado), com um muito saboroso creme de avelã, criando a combinação perfeita para fechar a refeição. d. e j. optaram pelo Gratinado de Maçã e Creme de Baunilha, uma sobremesa "simples mas eficaz", com um bom equilíbrio entre o estaladiço crumble de maçã e a textura suave do creme, que, apesar de não surpreender, encerrou bem a refeição. 

Para acompanhar, escolhemos o vinho da casa a copo, um tinto do lote Miguel Castro e Silva (chef do restaurante). Bom e intenso, sem ser agressivo. A carta de vinhos pareceu-nos um tanto ou quanto curta... Uma nota negativa, mais uma vez, para a questão da água. O Largo é mais um dos restaurantes que optou por vender água da torneira filtrada, em garrafas de marca Largo, sem oferecer a opção de escolha entre esta água e a água mineral engarrafada. Enfim, é uma estratégia comercial, mas 6,80 € por duas garrafas de água é abusivo e uma opção que nos custa a compreender. Definitivamente, temos que passar a perguntar qual o tipo de água que nos vão servir, porque já começámos a perceber que se não o fizermos, ninguém nos vai dizer...

Para terminar, a experiência foi muito positiva, sendo o Largo um restaurante que marcamos como uma sugestão para quem procura uma refeição num ambiente de classe, com um bom serviço e muito boa comida.

data da visita: 21.dez.2012
preço por pessoa: 23,70 € (com o desconto dois por um)
preço por pessoa: 42,70 € (sem o desconto dois por um)

Restaurante Largo
Rua Serpa Pinto, 10, Lisboa