domingo, 30 de outubro de 2011

Sabores de Monsaraz | Alentejo Profundo III

E eis que esta série termina, mas com um grande final! O objectivo deste curto roteiro gastronómico, foi o de mostrar o que se faz nas mais pequenas terras alentejanas. Mostrou-se o que se faz de bom e de mau, o que está a ser aproveitado e desperdiçado e o quanto a nossa carteira é valorizada. Mais do que mostrar isto ou aquilo, espero ter aguçado a curiosidade das pessoas que leram estes posts, para conhecerem melhor esta gastronomia. Posso apenas dizer que em localidades como Arraiolos, Monsaraz e Estremoz há restaurantes fabulosos, mas, não sendo possível escrever sobre todos, escolho o melhor entre os melhores: o Sabores de Monsaraz.

Este relato do Sabores de Monsaraz "peca" por lá ter ido apenas uma vez e pela variedade dos pratos provados ter sido escassa. A "virtude" é que em apenas uma visita a este restaurante fiquei absolutamente fascinado por este espaço, pelo seu serviço peculiar e pela elevada qualidade das refeições.

Espaço e Serviço

Situado na vila medieval de Monsaraz, a vista deste restaurante é qualquer coisa de fabulosa. A planície alentejana domina, com os seus sobreiros, vilas compostas por pequenas casas brancas e a enorme albufeira do Alqueva. O espaço poderia ser maior, porém a sua dimensão traz-lhe algo de acolhedor e típico, sendo que as suas paredes de xisto (aviso que geologia não é o meu forte...) dão-lhe um ar rústico e tradicional. O facto da cozinha estar à vista, ou pelo menos parte dela, torna o ambiente caseiro, com tudo o que de positivo este termo possa ter. Para quem tem crianças, no exterior do restaurante, há um pequeno parque situado estrategicamente à vista dos pais mais ciosos. O serviço, esse, é único, pois quem atende é quem cozinha e quando lá fui eram duas senhoras que poderiam ser as nossas mães/avós, naturalmente simpáticas e bem dispostas com os clientes. Isto retira profissionalismo? Não, pois o servir bem não é necessariamente ter um empregado a dizer que as nossas escolhas são excelentes, ou a demonstrar técnicas fabulosas para abrir uma garrafa de vinho.

(foto daqui)

Couvert - Ok, mais uma vez escrevo sobre o queijo fabuloso de um restaurante alentejano... Era óptimo e isso é o que interessa. Queijo de ovelha amanteigado, com um sabor intenso, mas equilibrado, que acompanhado com um bom pedaço de pão era uma maravilha.

Melão com Presunto Pata Negra - Se a descrição do que foi provado nesta refeição é limitada, tal se deve ao facto de as entradas e pratos principais terem sido iguais para todos. Não fomos todos obrigados a comer a mesma comida, as escolhas é que foram coincidentes. Quanto a esta entrada, a combinação do sabor doce e fresco do melão, com um presunto fora de série, resultou muito bem. O presunto Pata Negra difere dos outros presuntos, da mesma forma que a carne de porco preto difere da carne de porco "normal". A consistência é diferente, sendo um presunto, talvez, mais duro. O sabor é mais intenso devido à maior presença de gordura do que nos outros presuntos, porém não o torna tão seco e salgado.

Medalhões de Porco Preto com Cebolinhas - Divinal! Medalhões de porco preto confeccionados em azeite e vinho tinto, com cebolinhas para intensificar o sabor. Umas batatas assadas para acompanhar esta carne tenra, saborosa, com aquela gordura q.b. que dá um gosto especial a tudo e temos um prato óptimo. Há algo que consiga ser mais tradicional do que isto? Carne de porco da região, confeccionada num azeite e vinhos regionais, que provavelmente eram excelentes a julgar pelo sabor que deram ao prato. Mais importante do ser tradicional, é o facto de ser simples! Há pratos que valem pela qualidade da combinação de vários ingredientes, muitas vezes à partida antagónicos e que com chefs menos experientes dão mal resultado. Não é o caso deste prato, pois os seus ingredientes não são muitos, mas são de elevada qualidade e complementam-se uns aos outros, permitindo contudo que a carne seja dominante. Uma nota apenas, este prato não está no menu do site do restaurante, contudo devo referir que fui lá há ano e meio.

Encharcada - Não fui eu que comi, pois já estava "a abarrotar", mas quem a experimentou disse que estava óptima.

Monsaraz Premium (Tinto), 2008 - Um peso pesado para acompanhar uma comida "leve". Um sabor intensíssimo, forte, que foi feito para acompanhar comidas de sabor intenso. Tê-lo provado numa noite quente de Verão não terá sido a melhor opção, mas o prato principal exigia um vinho destes. O sabor era tão marcante, que passado ano e meio, ainda consigo recordá-lo! A descrição deste vinho refere que tem elementos com aroma a café, cacau e frutos negros, o que pode explicar o sabor intenso. A refeição foi certamente bem acompanhada e acomodada por este vinho.

Preço - Como já referi, não fui eu quem pagou a conta, contudo posso calcular que por pessoa tenha sido considerável. Os diferentes sites da especialidade indicam um preço médio de 25 €, o que aceito tendo em conta as escolhas que se fizerem. Esta refeição que descrevi, talvez tenha ficado por 35 €, já dividindo o valor do vinho pelas pessoas. Para uma melhor percepção do preço, aconselho a consulta ao site deste restaurante, cujo menu indica os preços das refeições.

data da visita: ago.2010
preço por pessoa: 35 € (aprox.)

Sabores de Monsaraz
Largo de S. Bartolomeu
7200-175 Monsaraz
www.saboresdemonsaraz.com

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Adega da Lua | Alentejo Profundo II

Do chefe ao chef, na pessoa deste vosso humilde autor, continua neste relato que se segue, a partilhar as suas experiências gastronómicas nos restaurantes das pequenas localidades alentejanas. Desta feita, fui até Cuba (distrito de Beja, por favor, não confundir com outras paragens), mais precisamente ao restaurante "Adega da Lua".

Antes demais, a ida a este restaurante foi um acaso, pois o meu alvo estava entre duas opções completamente distintas na forma de apresentar a cozinha alentejana, a saber, os restaurantes "Buraco da Zorra" e "A Varanda", ambos no concelho do Alvito. Um porque estava fechado, o outro porque os preços praticados eram demasiado elevados e a menção no Guia Michelin, pelos vistos, subiu à cabeça dos seus proprietários fizeram com que a minha opção recaísse por fazer uma breve (mas muito bonita) viagem até ao concelho vizinho de Cuba. Chegado ao restaurante, com o estômago colado às costas, a primeira coisa que pensei foi que a ida a este restaurante ia ser "juntar a fome à vontade de comer". Enganei-me logo na entrada...

Queijo de Ovelha
Enquanto no restaurante "A Cave" havia um queijinho de ovelha e cabra fabuloso, neste restaurante serviram como entrada um queijo de ovelha, que de tradicional tinha o nome, pois parecia um qualquer queijo comprado no supermercado. Acho incompreensível como um restaurante situado em pleno Alentejo, tão reputado na críticas como sendo um espaço defensor da cozinha tradicional, não é capaz de apresentar um queijo de ovelha em condições. Um Palhais comprado no supermercado teria cumprido melhor. Foi servido frio (?!), o que lhe retira sabor e lhe confere uma textura mais rígida entre o granulado e o farinhento. O coalhar do queijo, que é o que dá origem ao sabor e textura do mesmo, tinha sido "assassinado", mas vivo também não teria muita qualidade. O sabor que lhe restava era demasiado áspero, não era forte, era apenas áspero! Quem me acompanhava, não partilhou da minha opinião, porém, reconheceu que aquele queijo poderia ser melhor.

Secretos e Plumas de Porco Preto
A primeira conclusão que eu retiro ao escrever esta parte deste texto, é que algo de estranho se passa no restaurante "Adega da Lua". Em nenhum site, forum ou blog que fale deste restaurante, vejo estes pratos mencionados no menu. Vejo coisas apetitosas como lagartos/bochechas/medalhões de porco preto (que não lhes pus a vista em cima na carta do restaurante) e outras como costeletas de novilho, bife do lombo, migas alentejanas, etc, mas nada de secretos/plumas de porco preto. Não é que preferisse comer medalhões de porco preto, mas as minhas expectativas iniciais poderiam sair defraudadas. A expectativa criada ao cliente e a sua confirmação (quando não superação), é essencial para qualquer restaurante que queira ter um bom nome.

Mas passando para os secretos por mim comidos e as plumas comidas pela minha agradável companhia, posso dizer que ambos os pratos se dividiam em duas partes, completamente antagónicas. As plumas e os secretos não foram escolhidos à toa, pois estávamos no calor do Alentejo e peixe fresco não faz sentido procurar nestas paragens, então uma boa carne grelhada é o que convém. Sendo de porco preto, convém ainda mais. Tanto os secretos, como as plumas, estavam muitíssimo bem confeccionados. Esta é a primeira parte de ambos os pratos, ou seja, carne grelhada, sem ser demasiado seca, mantendo-a suculenta e no caso dos secretos, com aquele "farrapinho" de gordura que sabe mesmo bem. O tempero da carne estava no ponto, salgada q.b., com um toque amargo do carvão, como se exige a qualquer carne grelhada desta forma, contudo sentia-se aquele sabor característico do porco preto.

A segunda parte do prato foi trágica. Eu não aceito que num restaurante que se diz tão tradicional, que é capaz de servir uma carne tão bem confeccionada, não haja um acompanhamento digno desse nome. Um acompanhamento na maioria das vezes faz metade do prato! Como é possível servirem como acompanhamento de uma carne fabulosa, um arroz agulha simples e solto, com umas batatas fritas e uma salada banal, que qualquer mortal faz em casa, em vez de servirem umas migas?! Em vez de uma salada carregada de cenoura que anula o sabor da alface e do tomate, porque não uma tigelinha com gaspacho alentejano? Em vez de batata frita, uma batata assada não ficaria melhor? Mas já que o acompanhamento era do mais banal, ao menos que o confeccionassem de forma subliminar, mas não, até um cozinheiro mediano/medíocre teria feito igual.

Melão
Apesar da desilusão com o acompanhamento do prato principal, a verdade é que não sobrou nada no meu, pois eu estava com muita fome. Por este motivo, mais o calor abrasador que se sentia, não houve grande vontade de comer um doce como sobremesa, cingindo-me apenas a uma fatia de melão. Comer fruta num restaurante à partida não costuma ser uma má experiência, mas com melões é como o povo diz: "só depois de abertos". Este era muito bom, pois era doce, suave e fresco.

Vinho
Estava muito calor e era eu quem ia a conduzir, por isso e estando eu no Alentejo profundo, resolvi arriscar e pedi um jarro pequeno de vinho branco da casa. Asseguraram-me que o vinho era das vinhas daquela zona e resolvi arriscar. Em boa hora o fiz, pois era um jarro bem servido (muito bom o pormenor do jarro de barro), o vinho era bom e cumpriu sem mácula a sua função, que por acaso era difícil. Não pensem que para um vinho, acomodar uma refeição, agradar um palato e refrescar quem o bebe é fácil. Este fê-lo e com a vantagem de ser barato. Contudo, um pouco mais fresco não teria sido má ideia.

Outros Pratos
Não tendo provado, apenas posso sugerir alguns pratos que pelo nome cativaram a minha atenção e que estavam mesmo no menu: bife do lombo com pimenta preta/grelhado com alho, costeletas de novilho, carne de porco à alentejana. Quanto aos peixes, sugiro o bacalhau assado... Caramba, é impossível em pleno interior alentejano servir ameijoazinhas à Bulhão Pato, cataplana de marisco, ou bife de atum, com a mesma frescura que se encontra num restaurante à beira-mar! Fica o alerta.

Espaço e Serviço
Por fora uma casa alentejana típica, que respeita a traça tradicional daquela zona do país. Por dentro, um espaço realmente interessante, com uma presença preponderante da madeira rústica na estrutura interna do edifício, bem como da tijoleira. Um balcão de madeira que combina bem com os elementos referidos anteriormente e um mobiliário também em estilo rústico (q.b. digamos), com a decoração a ser simples, também enquadrada neste tema. Em suma, um bom ambiente, apesar da tradicional televisão (nesta foto, pois actualmente julgo ser um LCD), mas que se compreende, pois nas terras mais pequenas os restaurantes têm uma função de convívio muito mais importante do que os das cidades. Isto vê-se pelos empregados, que tiveram sempre uma postura correcta e simpática connosco, mas de amizade com clientes locais.

(foto daqui)

Preço
Barato, tudo o que comemos e bebemos, mais duas garrafas de água, ficaram por cerca de 25 €. Nos dias que correm, não sendo um prato-do-dia, é acessível.

Conclusão
Não foi das melhores experiências, mas a ter uma avaliação de 0 a 10, teria um 6, pois a carne estava realmente boa e o vinho tinha uma excelente relação qualidade/preço. A repetir? Não sei, talvez preferisse experimentar outro restaurante, desta feita no Alvito, pois em Cuba não haverá certamente muitas mais opções. Porém, sei que algures em Monsaraz há uma excelente opção...

data da visita: 10.set.2011
preço por pessoa: 12,50 €

Adega da Lua
Travessa das Francas, 1
Cuba (Beja)

domingo, 2 de outubro de 2011

Taberna do Chiado

Quando passava na Rua Nova do Almada e via as mesas junto das varandas de um primeiro andar, com as janelas abertas para a rua, confesso que ficava cheio de vontade de experimentar aquele restaurante…

Numa sexta-feira à noite de fim de verão, daquelas em que apetece qualquer coisa diferente, decidimos experimentar um restaurante novo. Claro que no topo da lista me surgiu a “Taberna do Chiado”.

Quando cheguei ao restaurante fiquei bastante surpreendido. Eram cerca de 20.30 de uma sexta-feira e a sala do restaurante somente tinha uma mesa ocupada! Depois fomos informados que o restaurante também tinha uma esplanada nas traseiras, que foi por onde optámos jantar. Aí o cenário era mais composto e, apesar de a esplanada não ser nada de especial (estamos encurralados entre duas paredes, num corredor estreito), o local era agradável (numa noite de verão comer na rua é sempre bom!).

A localização do restaurante é excelente. Mesmo no coração da cidade e num pulo estamos bairro alto, para um copo depois de jantar, caso se esteja na mood. E o facto de haver muitas mesas disponíveis e ser relativamente sossegado faz com que o restaurante ganhe pontos em relação a outros que por ali existam.

Começámos com uma entrada que aprecio muito, e é muito popular nos dias que correm na generalidade dos restaurantes: ovos mexidos com farinheira. E foi uma boa escolha. O prato de entrada estava bem apresentado (simples e sem ser folclórico) e muito saboroso.

Para jantar escolhi Tiroleto vegetariano (um prato vegetariano, tal como o nome indica). Os vegetais eram diversificados (milho, cogumelos, courgette, pepino e cebola - podem existir mais legumes, mas a sua presença passou-me despercebida) e o molho de queijo muito bom (pelo menos na primeira garfada). O prato somente acompanhava com arroz branco, o que pode ser um minus quando estamos a meio da refeição. O molho de queijo que no início era muito interessante ao longo do jantar pode revelar-se muito forte e mesmo enjoativo. Fica uma sugestão, se existisse um outro elemento no prato, que corte o sabor forte do queijo, o prato seria mais “fácil”.

A comida foi boa. A decoração dos pratos é bastante simpática e apelativa (até adiciono uma foto “à turista” para poderem visualizar o que escrevi).

A acompanhar bebemos sangria branca. O que se revelou uma verdadeira desilusão! Tendo em conta que o jarro de um litro custa treze euros, esperava muito mais do que sumo de laranja, que era o que na verdade estávamos a beber. Aliás, por duas vezes e a empregados diferentes, demonstrámos a nossa opinião em relação à sangria, sem, no entanto, obter qualquer efeito (aliás, até poderia entrar em mais pormenores e contar a história engraçada que tivemos com o gerente/responsável do restaurante, mas não me quero alongar).

O menu das sobremesas deixa um pouco a desejar. Não houve nenhuma sobremesa que nos tenha despertado a curiosidade e o interesse, por isso a refeição terminou sem um fecho doce (ainda por cima tinha ficado BEM cheio depois de todo aquele molho de queijo…).

De uma forma geral o restaurante, a comida e o serviço é bom. No entanto fica a sensação que, para o preço que foi cobrado, a experiência deveria ser melhor (tenho que admitir que considero que paguei demais pelo jantar, mas bem, é um restaurante no Chiado).


data da visita: 09.set.2011
preço por pessoa: 20,50 €

Taberna do Chiado
Calçada Nova de São Francisco 2 - A
1200-300 Lisboa
www.tabernadochiado.com